segunda-feira, agosto 08, 2011

Especial para ÁFRICAS

PRÊMIO LUIZA MAHIN

Prêmio Luiza Mahin homenageou mulheres comprometidas com a valorização da cultura negra

Antonio Lucio

Marcada pela emoção dos presentes e com muita pompa e circunstância, a Coordenadoria dos Assuntos da População Negra (CONE, sob o comando de Maria Aparecida de Laia,

orgão Secretaria de Participação e Parceira (SMPP) da Prefeitura da Cidade de São Paulo, promoveu na segunda-feira, 25/7, a entrega do 1º Prêmio Luiza Mahin. A cerimônia iniciada com o cântico do Hino da Negritude, de autoria do ícone da comunidade afro-brasileira, professor, escritor e advogado Eduardo de Oliveira, aconteceu no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo e teve como mestres de cerimônia Anair Novaes e o maestro Roberto Expedito Casemiro.

O prêmio foi instituído pelo prefeito Gilberto Kassab através de um decreto que regulamentou os eventos a serem realizados anualmente dentro das comemorações do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, em São Paulo através de Lei Municipal, oriunda de um projeto apresentado na edilidade paulistana pela batalhadora mulher negra e ex-vereadora petista Claudete Alves, atual dirigente do Sindicato dos Professores do Ensino Municipal de São Paulo.

Quem foi Luiza Mahin

Mulher negra, nascida do século XIX, da tribo Mahin, trazida para Bahia como escrava. Liderou a Revolta dos Malês, uma das maiores rebeliões de escravos ocorridas em solo baiano. Caso o levante dos Malês tivesse sido vitorioso, Luísa teria sido reconhecida como Rainha da Bahia.

Ela foi surpreendida com seu grupo pela força policial, obrigados a se lançarem em combate foram derrotados. Luiza e outras lideranças conseguiram escapar da perseguição, partiu para o Rio de Janeiro, deixando seu filho, Luis Gama - com apenas cinco anos de idade -, aos cuidados do pai.

Com dez anos, a criança foi vendida ilegalmente como escrava, para quitar uma dívida de jogo, e Luiza foi descoberta, detida e, possivelmente, degredada para Angola.

A PREMIAÇÃO DA PRIMEIRA EDIÇÃO

A Láurea foi concedida a sete mulheres negras comprometidas com a valorização da cultura negra, a inclusão social e a luta anti-discriminatória, que foram escolhidas a partir de indicações feitas por entidades ligadas ao movimento social negro e às redes sociais negras, sendo premiadas as seguintes personalidades:

Ana Maria Araújo Santos, mais conhecida como Mãe Ana de Ogun, filha-de-santo de Mãe Simplícia de Ogun da Casa de Oxumare, Iyálorixá do Candomblé Ilê Axé Oju Onirê localizado no Parque Jacarandá – Taboão da Serra, São Paulo. Iniciada para o culto aos Orixás (Candomblé) em 24 de maio de 1960, aos 16 anos de idade. Aprofundando-se e mantendo viva a tradição do candomblé, iniciou e ainda inicia inúmeras pessoas, ostenta em sua trajetória de vida vários prêmios e louvores religiosos, sociais, e preza pela harmonia e boa conduta na religião que se tornou parte integral de sua vida. No ano de 2010, completou 50 anos de iniciação (Odum Adotá), juntamente com suas irmãs de barco: Elza de Oxóssi, Walquíria de Oxum e Beth de Oxalá. Motivo de muita festa e celebração no Axé Oxumaré.

Fanta Konate é da etnia MALINKÊ, uma das principais do tronco linguístico mandinga, que muito tem haver com Luíza Mahin - MALÊ (Mandinga).
O trabalho de Fanta Konatê também elucida aspectos relação à Diáspora e às nossas origens Mandingas, presentes inicialmente na Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão, Alagoas e posteriormente difusa em todo o país. Fanta Konatê é bailarina, coreógrafa e cantora em três balés de Conakry, e na convivência diária com seu pai Famoudou Konatê e seus irmãos, todos artistas internacionais

Fundadora da ONG África Viva, que viabiliza condições para o desenvolvimento humano pesquisando e promovendo culturas tradicionais do Oeste da África, principalmente da Guiné e Senegal.

Fundadora, coordenadora e professora de dança do Instituto Famoudou Konatê, com sede em São Paulo.

Luislinda Dias de Valois Santos é a primeira mulher negra a entrar para a magistratura no Brasil, em 1984. Primeira profissional da área a proferir uma sentença contra o racismo no Brasil, em 1993. Antes de cursar Direito, estudou teatro e filosofia. Ao longo de sua carreira, reativou dezenas de Juizados Especiais em municípios da Bahia, criando, entre outros, o Juizado Itinerante Terrestre, dentro de um ônibus, e o Juizado Itinerante Marítimo, dentro de um barco. Criou, em 2003, o projeto Balcão de Justiça e Cidadania, que resolve conflitos de populações de bairros pobres de Salvador, áreas de remanescentes dos quilombos e comunidades indígenas. Luislinda dá palestras em escolas públicas para que os jovens conheçam seus direitos e deveres. O Programa Justiça, Escola e Cidadania, idealizado por ela, atingiu milhares de estudantes. Sua trajetória e seus projetos/programas renderam-lhe prêmios e reconhecimento mundial. Seus principais desafios são combater o racismo dentro e fora da magistratura e tornar a Justiça acessível a todos. É Juíza desde 1984, atuando na Bahia, realizou diversos projetos em defesa de seu povo oprimido e discriminado, conquistando respeito e credibilidade, além de vários prêmios. Entre suas realizações estão a criação e instalação de vários juizados (inclusive itinerantes) em várias cidades da Bahia, além de participação no lançamento do Relatório Nacional Brasileiro em cumprimento à Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher CEDAW – realizado no Palácio Planalto em Brasília.

Mafoane Odara Poli Santos “De nome e história fortes, Mafoane Odara, além de fazer jus ao significado do próprio nome – Mafoane, palavra de origem Kimbundu (Angola) que significa jóia rara; e Odara, de origem Yorubá (Nigéria), que significa bonita – ela é, para todos que a conhecem, um exemplo de persistência, trabalho e energia. Além de cursar mestrado em Psicologia Social pela USP e de militar nas áreas de juventude, saúde, gênero e raça, Mafoane Odara coordena atualmente o Geração Muda Mundo, programa de juventude da Ashoka Empreendedores Sociais, que incentiva e apoia jovens a criar e a gerenciar projetos sociais. Mafoane Odara acredita que a chave para o desenvolvimento é investir na educação empreendedora e nas iniciativas juvenis: os jovens devem ser desafiados."

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva é professora titular de Ensino-aprendizagem e Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros/UFSCar e Coordenadora do Grupo Gestor do Programa de Ações Afirmativas da UFSCar. Possui graduação em Português e Francês pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1964), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1979) e doutorado em Ciências Humanas -Educação pela mesma universidade (1987). Cursou especialização em Planejamento e Administração da Educação no Instituto Internacional de Planejamento da UNESCO, em Paris (1977). Realizou estágio de Pós-Doutorado em Teoria da Educação, na University of South Africa, em Pretoria, África do Sul (1996). Por indicação do Movimento Negro foi conselheira da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, mandato 2002-2006. Nesta condição foi relatora do Parecer CNE/CP 3/2004 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e participou da relatoria do Parecer CNE/CP 3/2005 relativo às diretrizes curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. Foi professora visitante na University of South Africa (1996), na Universidad Autonoma del Estado de Morelo, in Cuernavaca, México(2003). Participa ativamente do International Research Group on Epystemology of African Roots and Education, coordenado pela Profª DrªJoyce Elaine King da Georgia State University/USA.Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Tópicos Específicos de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação e relações étnico-raciais, negro e educação, direitos humanos, práticas sociais e processos educativos, políticas curriculares. Conselheira do World Education Research Association (WERA) representando a Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) (ABPN) e Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd). Em junho 2010 foi indicada como Somghoy Wanadu-Wayoo, ou seja, conselheira, integrante do conselho do Amiru Shonghoy Hassimi O. Maiga, chefe do povo Songhoy, no Mali.

Sônia Maria Pereira Nascimento é advogada, fundadora, do Geledés- Instituto da Mulher Negra sendo sua presidenta, por duas gestões, no período de 30 de abril de 1994 a 30 de abril de 2000. Coordenou os Projetos: SOS - Racismo de Assessoria Jurídica às Vítimas de Discriminação Racial de 1994 a 1998 e o projeto Atendimento Psicossocial às Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Sexual. É a atual vice-presidenta de Geledés e coordena também o projeto PLP - Promotoras Legais Populares.
Foi integrante da Comissão do Negro e Assuntos Antidiscriminatórios – CONAD da OAB/SP.
Coordenou a Subcomissão Contra a Discriminação nas Relações de Consumo, onde o realizou o Projeto "OAB vai para a periferia" em 1997/98 e coordenou o "Curso de Capacitação em Direitos Humanos, Cidadania e Discriminação nas Relações de Consumo" para oficiais, sargentos, cabos e soldados da Policia Militar do Estado de São Paulo, numa parceria OAB/SP e o Comando da Policia Militar de São Paulo, de agosto a novembro de 1999 e Curso sobre o mesmo tema em 2001 e 2002 para soldados e cabos.

Theodosina Rosário Ribeiro
é reconhecida com destaque na política paulista. Formou-se filósofa, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Mogi das Cruzes, e advogada, pela FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas. Na vida pública, teve quatro candidaturas vitoriosas - uma como vereadora e três como deputada estadual. Primeira vereadora negra da Câmara Municipal de São Paulo, eleita em 1968. Em 1970, foi eleita a primeira deputada negra da Assembléia Legislativa do Estado, sendo reeleita em 1974 e 1978 onde ocupou também o cargo de vice-presidente. A professora Theodosina Ribeiro prestou um grande serviço à Nação. Ela se tornou uma referência e estímulo para as mulheres negras participarem como candidatas em eleições proporcionais e majoritárias em todo o país. . Depois dela, outras mulheres negras se engajaram na vida publica.

HOMENAGEM

Vicenta Camusso é Representante da Red de Mujeres Afro-latinoamericanas, caribenhas e da Diáspora. Especialista em Desenvolvimento Local e Gênero. Formação em Desenvolvimento Gerencial e Marketing. Desenvolvimento Local com Perspectiva de Gênero e até o momento tem participado de programas e projetos como facilitadora de processos psicossociais na área de desenvolvimento humano, desenvolvimento local e gênero, geração de emprego, criação de micro empresas.
Delegada da Coletiva de Mulheres e Saúde, de 1998 a 2001 no Comitê Nacional Evolução Cairo + 5 República Dominicana; no Comitê

Premiadas com a estatueta Luiza Mahin e certificado – Foto: SMPP

O evento que lotou completamente o Salão Nobre da edilidade paulistana, não contou com a presença de nenhum parlamentar negro do Estado de São Paulo, mas foi prestigiado com a presença do Senador Eduardo Suplicy, Uebe Rezeck. Secretario de Participação e Parceria, representando o prefeito paulistano, Maria Aparecida de Laia (coordenadora-geral da Coordenadoria dos Assuntos da População Negra (Cone), Vicenta Camusso (Representante da Red de Mujeres Afro-Latinoamericanas, Caribenhas e da Diáspora, Yolanda Sperme (Coordenadoria de Assuntos da População Negra), o príncipe nigeriano Otunba Adekunle Aderonmu e esposa, presidente do Centro Cultural Africano, Maria Estela Corrêa, assessora cultural do Consulado-Geral americano em São Paulo e outras personalidades ligadas a entidades negras e da sociedade civil organizada.

Foto: CMSP

O secretário da SMPP, Uebe Rezeck, presente no evento, ressaltou a importância do prêmio como forma de enaltecer o trabalho realizado por essas mulheres negras na luta contra o preconceito racial e na luta pelos seus direitos na sociedade. “Cabe ressaltar ainda, a experiência de mulheres negras na luta pela superação do preconceito e discriminação racial no ingresso no mercado de trabalho. Algumas mulheres atribuem a “façanha” da conquista do emprego do sucesso profissional a um espírito de luta e coragem, fruto de muito esforço pessoal, e outras ainda, ao apoio de entidades do movimento negro, como é o caso da CONE, através da coordenadora Maria Aparecida de Laia.

A estatueta de bronze e 20 centímetros de altura e com base em madeira, foi confeccionada a partir de um trabalho realizado pelo conceituado publicitário e cartunista reconhecido internacionalmente, Maurício Pestana, também presente no evento, cujas obras se caracterizam por abordar o tema da luta no combate ao racismo e a qualquer tipo de discriminação e de defesa da cidadania na sociedade brasileira.

* Articulista do PORTAL ÁFRICAS com CMSP e SMPP/São Paulo





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comments system

Disqus Shortname

LinkWithin